OPINIÃO – Dragão da Maldade numa Terra em Transe?

Fechamento do Cine Glauber é mais um duro golpe no setor cultural baiano

Por André Araujo*

Cena 01: O ano de 2020 foi duro para o segmento de exibição, havendo uma queda de cerca de 77% de público e renda quando comparado com 2019, tanto em âmbito nacional, quanto na Bahia. Quando observamos o ano de 2021, mesmo com parte das atividades já estejam sendo retomadas, ainda percebemos números distantes dos tempos pré-pandêmicos.

Cena 02: Pesquisa sobre hábitos de consumo realizada pelo Itaú Cultural e Data Folha, e que teve sua versão mais recente realizada em junho de 2021, apontou que, em 2020, o cinema foi indicado como atividade prioritária para se realizar na reabertura (22%);  “shows musicais” estava em segundo lugar, com 13%. Além disso, Cinema foi a atividade cultural que o público mais sentiu falta durante a pandemia, sendo apontado, em primeiro lugar, por 47% dos(as) entrevistados(as). 

Cena 03: Em julho de 2021, um incêndio na Cinemateca Brasileira destrói parte significativa do acervo de Glauber Rocha, um dos maiores cineastas brasileiros da história. Há 40 anos, em 22 de agosto de 1981, Glauber falecia, deixando um grande legado.

Aparentemente, nem a representatividade da figura de Glauber, nem a pesquisa encomendada pelo próprio Itaú Cultural, e nem os perceptíveis impactos da pandemia em todo o segmento cultural foram suficientes para não levar o Itaú a tomar uma decisão que impacta economia, emprego, memória, arte e cultura. É simbólico, no pior sentido do termo, que o fechamento do complexo de salas que leva o nome do cineasta, em seu estado natal, aconteça no momento em que se completam 40 anos de sua morte. 

E vale lembrar que, há poucos dias, o Circuito Sala de Arte encampava uma campanha (felizmente exitosa) de financiamento coletivo para garantir a sua manutenção e reabertura. 

Enquanto teatros e espaços culturais começam a reabrir, grande parte dos(as) frequentadores(as) do Cine Glauber não tiveram a oportunidade de se reconectar com as presenças e os encontros que espaços como estes vinham proporcionando.  Eu sou uma delas, mas espero retornar às suas poltronas em breve.

*André Araujo é coordenador do Observatório do Audiovisual Baiano e doutorando pelo programa de pós graduação em Cultura e Sociedade/UFBA.